domingo, 21 de fevereiro de 2021

Texto: A Era das Máquinas Espirituais, de Ray Kurzweil

Como e porque nos imaginamos Deus ao criar a Inteligência Artificial

Como e porque nos imaginamos Deus ao criar a Inteligência Artificial


A obra prima da nossa arte representativa terá sido o sonho de ter criado máquinas cuja capacidade quântica de representação independe, agora, de nós.


Foi quando o Homem descobriu a representação da realidade que tudo mudou. Pense comigo. Tem a realidade. E tem a representação da realidade.

Arte é representação da realidade. O desenho rupestre das cavernas de milhares de anos atrás somos nós deixando de ser o que somos, para sonhar o que imaginamos.

Números também são representações da realidade. Pega um número. Não dá.

Toda matemática, fundamento de praticamente toda expressão lógica que conhecemos, além da filosofia, fundamentalmente, não existe. É uma ficção funcional humana.


Para citar Yuval Noah Harari, em seu “Sapiens”, “… o cérebro humano é incapaz de pensar em conceitos como relatividade e mecânica quântica. Os físicos conseguem, porque deixam de lado o jeito humano de pensar e aprendem a pensar de novo com a ajuda externa de processamento de dados. Parte crucial de seu pensamento não acontece em sua cabeça, mas dentro de um computador ou num quadro negro”.

Daí a imaginar que os algoritmos são igualmente expressões externalizadas de uma quimera humana, tá fácil.

Algoritmos são a base da Inteligência Artificial, que como o nome que nossa imaginação criou deixa claro , quer dizer uma inteligência que não é nossa, é fake. Ela é… bem… artificial. Exo-humana.

Toda essa externalidade foi gerando máquinas como representação de nós mesmos e a Inteligência Artificial é sua maior libertação.

Como diz a futurista Amy Web em seu livro “The Big Nine”: “A evolução da Inteligência Artificial, de sistemas robustos capazes de realizar tarefas específicas para máquinas de pensamento abrangente, está a caminho. Neste momento, a Inteligência Artificial é capaz de reconhecer padrões e tomar decisões rapidamente, encontrar regularidades escondidas em grandes quantidades de dados, além de fazer acuradas previsões. ”


Deste momento em diante, essas máquinas evoluirão a partir de seu próprio conhecimento, o adquirido e o proprietário, mais avançado que o humano, sem necessariamente termos controle claro sobre todo esse processo. Nem onde vai dar.

Assim, a obra prima da nossa arte representativa terá sido o sonho de ter criado máquinas cuja capacidade quântica de representação independe, agora, de nós.


Deus ex-machina. Em Latim, um Deus surgido da máquina.


 


Criados criaturas, nos arvoramos divinos. E foi o que criamos.


https://www.proxxima.com.br/home/proxxima/blog-do-pyr/2019/04/01/como-e-porque-nos-imaginamos-deus-ao-criar-a-inteligencia-artificial.html 

Amauri Ferreira: Deleuze & Guattari - Máquinas sociais e desejantes, 01/10/19