Como e porque nos imaginamos Deus ao criar a Inteligência Artificial
A obra prima da nossa arte representativa terá sido o sonho de ter criado máquinas cuja capacidade quântica de representação independe, agora, de nós.
Foi quando o Homem descobriu a representação da realidade que tudo mudou. Pense comigo. Tem a realidade. E tem a representação da realidade.
Arte é representação da realidade. O desenho rupestre das cavernas de milhares de anos atrás somos nós deixando de ser o que somos, para sonhar o que imaginamos.
Números também são representações da realidade. Pega um número. Não dá.
Toda matemática, fundamento de praticamente toda expressão lógica que conhecemos, além da filosofia, fundamentalmente, não existe. É uma ficção funcional humana.
Para citar Yuval Noah Harari, em seu “Sapiens”, “… o cérebro humano é incapaz de pensar em conceitos como relatividade e mecânica quântica. Os físicos conseguem, porque deixam de lado o jeito humano de pensar e aprendem a pensar de novo com a ajuda externa de processamento de dados. Parte crucial de seu pensamento não acontece em sua cabeça, mas dentro de um computador ou num quadro negro”.
Daí a imaginar que os algoritmos são igualmente expressões externalizadas de uma quimera humana, tá fácil.
Algoritmos são a base da Inteligência Artificial, que como o nome que nossa imaginação criou deixa claro , quer dizer uma inteligência que não é nossa, é fake. Ela é… bem… artificial. Exo-humana.
Toda essa externalidade foi gerando máquinas como representação de nós mesmos e a Inteligência Artificial é sua maior libertação.
Como diz a futurista Amy Web em seu livro “The Big Nine”: “A evolução da Inteligência Artificial, de sistemas robustos capazes de realizar tarefas específicas para máquinas de pensamento abrangente, está a caminho. Neste momento, a Inteligência Artificial é capaz de reconhecer padrões e tomar decisões rapidamente, encontrar regularidades escondidas em grandes quantidades de dados, além de fazer acuradas previsões. ”
Deste momento em diante, essas máquinas evoluirão a partir de seu próprio conhecimento, o adquirido e o proprietário, mais avançado que o humano, sem necessariamente termos controle claro sobre todo esse processo. Nem onde vai dar.
Assim, a obra prima da nossa arte representativa terá sido o sonho de ter criado máquinas cuja capacidade quântica de representação independe, agora, de nós.
Deus ex-machina. Em Latim, um Deus surgido da máquina.
Criados criaturas, nos arvoramos divinos. E foi o que criamos.
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